O velho oligarca, parte 1

11:39:00


Reza a lenda que enquanto certo oligarca de uma determinada província de um grande país das Américas era internado em um hospital, seja lá qual por qual motivo, no andar de baixo da terra o Diabo vivia seus momentos de aflição.
Em um desses dias o Diabo saiu de seu escritório tomado pela angústia e foi tomar um café na lanchonete da empresa. Adolf, seu estagiário, ao perceber a inquietação do chefe foi ao seu encontro e começou:
- Boa tarde, chefe. – falou Adolf em um tom de bajulação – percebi que o senhor anda meio preocupado hoje.
- Boa tarde, Sr. Hitler. É que hoje não é o meu dia. Pois ele está voltando.
- Ele quem?
- Ele – murmurou o pobre diabo – aquele que por onde passa deixa a destruição e a miséria.
- Ah! O Sarn...
- Não pronuncie este nome! Vai invocá-lo! – Interrompeu o Diabo aos berros.
- Me desculpe, chefe. – falou Hitler – mas não acredito que o senhor, todo poderoso, está com medo de um político.
O diabo sorriu.
- Antes fosse só um político, Sr. Hitler. Você já viu o que ele fez com os seus dois feudos? Esse tipo de gente ruim só traz a destruição por onde passa.
- Mas tenho certeza que o senhor e sua família mostrarão quem realmente detém o poder.
- Meu Deus – exclamou o Diabo -, esqueci da família dele! Tenho certeza que não vai demorar muito e a família dele habitará este lugar, se ele fez na terra, por que não fará aqui também? E ainda tem aquela filha dele, quando ela colocar os pés aqui será o fim da SUDIN (Superintendência de Desenvolvimento do Inferno). Aquela ali coloca a Lilith no sapato. Se você acha que aqui tem jogatina espere até a filhinha do papai chegar, nunca vi uma mulherzinha pra gostar tanto de baralho como aquela dali.
- Mas deve haver alguma solução, chefe.
- Eu já fiz de tudo. Nenhum ceifador se atreve a ir lá para dar o último beijo nele. Mas sempre tem um estagiário que quer mostrar serviço, vai lá e faz, depois a desgraça está feita – alfinetou o Diabo.
- Mas chefe, o senhor soube lidar com o Bin Laden.
- Fichinha.
- Com o Mussolini.
- Uma moça perto dele.
- Com o ACM.
O Diabo deu um suspiro de reprovação.
- Adolf – advertiu o Diabo, afrouxando a gravata – você ainda não entendeu a gravidade disso. Ele não vai aceitar ser meu funcionário, não viu o que ele já fez pra ser governador, presidente e senador? Ele sempre quer mandar, e eu serei apenas um SP (Serviço Prestado) dele. Gente como esse senhor só traz a desgraça. Ele acaba com escolas, hospitais, segurança e tudo aquilo que seus estados nunca ouviram falar, nem de longe. Ele condena o seu povo a uma das piores doenças da humanidade, ele apresenta-os para a morte em plena vida. A morte da sabedoria, a morte do bem-estar. Ele domina o seu povo pela miséria. A única coisa que nos resta é rezar.
Hitler aquiesceu.
Enquanto o Diabo colocava açúcar na água, Lilith, sua assistente, veio ao seu encontro e, com um sorriso no rosto, disparou.
- Senhor, ele recebeu alta.
E todos sorriram e se abraçaram.
Mais um dia feliz no inferno.
E que Deus abençoe a Terra.

Da série: Conto das dez.
Escrito em: 07/12/2011
Publicado em: 01/08/2013

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